Aplicações de Blockchain em Cidades Inteligentes

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blockchain  José Reynaldo Formigoni Filho*

 

Criada no ambiente financeiro, a expressão Blockchain foi se popularizando no universo corporativo à medida em que ampliou seu uso e aplicações para outras áreas. Mas o que é Blockchain?

É uma combinação de tecnologias, que foi concebida para dar suporte ao funcionamento da criptomoeda bitcoin e acabou se tornando a plataforma tecnológica adotada por várias outras criptomoedas. Após a implantação das primeiras criptomoedas, especialistas observaram que propriedades intrínsecas ao blockchain – como segurança, resiliência, inviolabilidade e imutabilidade – poderiam ser usadas em outros tipos de aplicações. Assim, as plataformas de desenvolvimento blockchain evoluíram, permitindo a inserção de transações mais complexas.

Em linhas gerais, blockchain pode ser descrito como um sistema distribuído de base de dados, mantido e gerido de forma compartilhada e descentralizada (por meio de uma rede peer-to-peer). Todos os participantes são responsáveis por armazenar e manter essa base de dados. A tecnologia foi construída com base em quatro características de arquitetura principais: segurança das operações, descentralização de armazenamento/computação, integridade de dados e imutabilidade de transações.

E quais são os principais benefícios do blockchain em relação às tecnologias convencionais nessa área? Um deles é a economia de tempo: em sistemas de pagamentos globais, por exemplo, o processamento de transações com blockchain pode levar apenas alguns minutos (em vez de dias, como ocorre em sistemas convencionais). Além disso, os recursos da tecnologia permitem reduzir custos operacionais, diminuir riscos e aumentar a confiança entre os parceiros de negócios.

Cidades Inteligentes

As possibilidades de desenvolvimento de aplicações baseadas em blockchain para cidades são muito promissoras e já estão acontecendo. Países como a Estônia, a Geórgia, os Emirados Árabes Unidos, a Suécia, os EUA e o Reino Unido já assumiram a liderança em aplicações pioneiras de blockchain no governo e no setor público. Dubai, por exemplo, planeja que todos os serviços públicos sejam baseados em blockchain até 2020 (www.khaleejtimes.com/nation/dubai/dubai-to-embrace-blockchain).

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Entre os possíveis usos do blockchain no contexto das cidades inteligentes, destacam-se:

  • Gestão de identidades de pessoas: criação de sistemas de identidade digital descentralizada baseados em blockchain, em que o cidadão passa a fazer gestão dos seus dados;

  • Gestão de ativos: transferência de ativos de uma pessoa ou entidade para outra, utilizando tokens criptográficos;

  • Automatização de pagamentos diretos: uma vez que uma condição previamente estabelecida (em contratos inteligentes) tenha sido atendida;

  • Propriedades e registros: registros de imóveis e títulos de propriedade; registros corporativos; registros de ativos de valor (como veículos, por exemplo);

  • Verificação: emissão de licenças, provas de registros, transações, processos ou eventos. Permite verificar se determinado serviço foi provisionado atendendo a todas as condições especificadas – por exemplo, em termos de equipamentos e profissionais.

A partir da combinação dessas possibilidades de uso, é possível desenvolver aplicações para diferentes setores de uma cidade inteligente:

  • Economia: criação de plataformas de economia comunitária baseadas no uso de tokens criptográficos para pagamentos de serviços da municipalidade;

  • Saúde: digitalização dos registros de saúde e criação de um ecossistema seguro e flexível para a troca desses registros eletrônicos. Essa tecnologia também pode ser utilizada na rastreabilidade de medicamentos, no desenvolvimento de plataforma segura para emissão de receitas de medicamentos, na criação de um ambiente mais transparente e seguro para controle de licenças médicas, etc;

  • Educação: compartilhamento dos registros de alunos, professores, de certificados educacionais, etc. – que são ativos importantes no domínio da educação – entre as várias partes interessadas, com garantia de confiabilidade e origem comprovada;

  • Registro de imóveis: o registro de propriedade armazenado em blockchain pode eliminar problemas associados a fraudes, ao criar um processo digitalizado para automatizar e validar tais registros, mitigando custo e o tempo gasto;

  • Transportes: automação de sistemas de pagamento baseados em tokens criptográficos, bem como controle e pagamento automático de serviços prestados pelas concessionárias;

  • Serviços públicos inteligentes: digitalização dos serviços públicos utilizando metodologias baseadas em security-by-design e privacy-by-design, de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais;

  • Gestão de gastos de energia e programas de reciclagem: desenvolvimento de plataformas para compra e venda de energia no contexto da geração distribuída (painéis solares) e criação de plataformas de estímulo à participação em programas de reciclagem, com premiação baseada em tokens criptográficos;

  • Segurança pública: serviços mais eficientes, com uma fonte unificada confiável com a qual cada agência interage de forma independente e com base em condições predefinidas. Estabelecimento de uma cadeia de custódia para provas cruciais, pré-requisito importante para que as evidências sejam aceitas;

  • Pagamento de benefícios sociais: com blockchain, é possível criar uma infraestrutura de bem-estar segura e altamente eficiente, capaz de evitar fraudes e desvios de benefícios sociais. Os cidadãos podem receber esses benefícios por meio de um sistema que inclui um aplicativo móvel e um sistema blockchain para registro dos pagamentos aos beneficiários.

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Uma das iniciativas internacionais conhecidas envolvendo o uso de blockchain em cidades inteligentes é a Smart Dubai, resultado de uma parceria estratégica com a IBM e a Consensys. Dubai emergiu como pioneira global no desenvolvimento de aplicações blockchain, buscando uma redução drástica nos custos associados a processos burocráticos. A iniciativa prevê a implantação de várias aplicações baseadas em blockchain e está sendo implementada em três etapas: eficiência nas transações do governo; criação de indústria para novos negócios baseados em blockchain até 2020 e busca de liderança internacional em adoção de blockchain.

Na Índia, o programa Smart Cities Mission, lançado em 2015 com o objetivo de desenvolver cem cidades inteligentes, também traz várias oportunidades de uso de blockchain. Muitos dos requisitos de cidade inteligente definidos pelo governo indiano têm potencial para implementação em blockchain, para maior segurança, imutabilidade, resiliência e transparência.

No Brasil, um projeto de mobilidade urbana conduzido em Teresina (PI) está sendo pioneiro no uso de blockchain nessa área. O objetivo é melhorar o sistema de transporte público de Teresina, com mais segurança e transparência para usuários e fornecedores. A iniciativa, que recebeu um financiamento de 500 mil euros da Agência Francesa de Desenvolvimento, faz parte do projeto Agenda Teresina 2030, que tem o objetivo de construir uma cidade inteligente até 2030 (www.criptomoedasfacil.com/conheca-o-projeto-brasileiro-de-mobilidade-urbana-que-usa-blockchain/)

José Reynaldo Formigoni Filho é gerente de Tecnologia de Segurança da Informação e Comunicação do CPqD e coordenador das atividades blockchain.

 

 

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