Porque nossos jovens apresentam alto grau de endividamento

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endividamento  Elias Sfeir, presidente da ANBC – Associação Nacional dos Bureaus de Crédito*

 

A inadimplência, que atinge aproximadamente 60 milhões de brasileiros, é um dos maiores problemas do país. E quando se constata que a inadimplência é marcante também nas gerações mais jovens, que já entram no mercado de consumo com alto grau de endividamento, conclui-se que uma solução ainda está distante. Isso porque a tendência é que esse jovem, com a idade, constitua família e assuma outros compromissos financeiros, agravando a situação.

Por perceber esse cenário, a ANBC (Associação Nacional dos Bureaus de Crédito), realizou uma estudo para levantar o perfil dos jovens no mercado de crédito. O estudo se baseou em dados de pesquisa divulgados ao longo do ano pelo birôs de crédito, comparados com as informações divulgadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). E descobriu que 32% da Geração Z, faixa de idade entre zero e 21 anos e população total de 13,8 milhões, está inadimplente. Em números absolutos, são 4,4 milhões de endividados, com valor médio da dívida de R$ 1.676,00.

Na geração seguinte, dos chamados millennials, faixa de idade entre 22 e 37 anos que concentra 51,5 milhões de pessoas, a análise constatou que a situação é ainda pior. O percentual de endividados é de 40%, ou 20,6 milhões, com uma dívida média de R$ 3.737,00, mais do que o dobro do tíquete médio apresentado pela geração Z. Apenas nessas duas gerações, que representam a população jovem do país, há 25 milhões de pessoas. Isso significa dizer que a cada dez brasileiros endividados, quatro pertencem às gerações Z e millennials.

Diversos fatores explicam essa situação. A carência de educação financeira e de mentalidade de poupança, comum a todas as gerações no Brasil, estimula a situação de inadimplência. Entre os jovens, também pesam a escassez de emprego e a dificuldade de acesso ao ensino, associadas a uma tendência consumista que se revela, por exemplo, no impulso para comprar os modelos mais recentes de tênis, celulares e notebooks, frequentemente trocados sem necessidade. O orçamento não comporta tantos gastos, mas o comportamento de compra compulsivo e irracional é mais forte.

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Os integrantes dessas gerações mais novas, de forma geral, ainda não constituíram família e, portanto, não sofreram a pressão própria de quem tem uma série de encargos adicionais para arcar no dia a dia como manutenção da casa, educação dos filhos e plano de saúde.

Essas obrigações mensais com os dependentes são fatores que pesam fortemente na inadimplência da próxima geração, a X, que compreende as pessoas entre 38 e 53 anos. A X é a que apresenta maior percentual de endividamento e maior tíquete médio. Constituído por 44,6 milhões de brasileiros, esse grupo apresenta 42% de endividados, ou 18,6 milhões de pessoas, e uma dívida média de R$ 5.351,00.

Esse é o retrato da atual geração X. Mas se considerarmos o grau de endividamento dos jovens hoje, pode-se concluir que, ao chegarem à geração X, podem apresentar uma situação até mais crítica que a observa atualmente nessa faixa que vai de 38 a 53 anos.

É claro que o cenário econômico desafiador também tem influenciado a inadimplência. Mas o comportamento de consumo dos jovens brasileiros mostra a urgência de se adotarem medidas estruturais que reduzam o custo do crédito, como a aprovação do Cadastro Positivo em votação no Congresso Nacional, e a inclusão da educação financeira nos currículos dos diversos níveis de ensino.

 

 

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